quarta-feira, 31 de março de 2010

História do Judô no Brasil Parte 2

Hélio Gracie, em luta contra dois campeões japoneses, Kato e Kimura, ganhou do primeiro e perdeu para o segundo, o que na época foi um grande feito e o seria ainda nos dias de hoje. Desenrolaram-se as duas lutas no solo (katame-waza), pois nosso lutador certo de sua inferioridade em peso e na luta em pé (nage-waza), inteligentemente forçou a luta no solo onde tinha melhores chances, e o resultado provou o acerto de raciocínio.
Assim, as escolas Gracie prosperaram e espalharam-se por várias capitais, mas sempre se dedicando mais ao ju-jutsu, motivo pelo qual prosperaram, pois nós brasileiros, ainda não estávamos preparados para um esporte como o judô, até então desconhecido e que se confundia com seu predecessor o ju-jutsu, que monopolizava as atenções e interesses que haviam.
Pode-se dizer que por um bom tempo este nosso esporte amparou-se no ju-jutsu, estranha arte de defesa pessoal, muito eficiente e misteriosa para época, que os japoneses trouxeram, não se sabe se misturada com o judô ou se o judô misturado com ela. O fato é ainda hoje o interesse subsiste, mesmo com a evolução do judô que suplantou de forma inequívoca esse seu rival.
Em 1924 ou 1925 chega Takagi Saigo, instalando-se em São Paulo e como não obteve bons resultados, prontamente voltou ao Japão. Nessa mesma época chegou também Tatsuo Okoshi 8º dan, que teve participação bem maior no desenvolvimento do judô brasileiro. Foi o fundador e primeiro presidente no Brasil da Associação dos Faixas Pretas do Kodokan e também fundador e primeiro diretor técnico da Federação Paulista de Judô.
Em 1928 foi à vez de Geo Omori, lutador extraordinário, que lançando e aceitando desafios, muitos deles no antigo Circo Queirolo, em São Paulo, a exemplo de Mitsuyo Maeda, ganhava sempre e assim chamando a atenção e contribuindo à sua maneira para manter viva a tênue chama que mais tarde viria transformar-se num dos maiores esportes brasileiro. Seria também em 1928 a chegada de Katsutoshi Naito, 7º dan, que se radicou em Suzano, São Paulo. Sua participação na organização e consolidação do nosso judô foi marcante. Ocupou pela primeira vez a função de diretor do departamento de judô da Federação Paulista de Pugilismo, então mentora oficial do nosso esporte, antes da fundação da Federação Paulista de Judô.
Outro a chegar em 1928 foi Yasuichi Ono, então 3º dan, que também aceitando desafios e trabalhando com extrema dedicação pelo judô, fez jus a que seu nome fosse inscrito com todo mérito e justiça nas páginas da história do nosso esporte. Em 1932 abre a sua primeira academia, mãe de muitas outras que prosperaram e dão continuidade ao trabalho do grande mestre, hoje 9º dan. Somente nas décadas de 30 e 40, com a corrente migratória japonesa que se instalava em São Paulo, muitos outros mestres surgiram iniciando a prática do judô nas colônias interioranas e, no Rio de Janeiro, em Itajaí e na Baixada Fluminense, alguns professores se dedicaram à divulgação e à prática do judô.
Grandes mestres se destacaram, mas, persistiam alguns mantendo a antiga denominação de ju-jutsu, originando discussões, dissociando uma denominação da outra, obrigando aqueles que se empenhavam na divulgação do judô a um exaustivo trabalho de doutrinação chegando, muitas vezes, ao extremo de aceitar desafios, para confronto entre seus participantes. Ainda na década de 30, mais precisamente em 1931 chega Sobei Tani, 6º dan, estabelecendo-se com sua academia em Jaraguá, São Paulo, de onde saíram grandes campeões como os irmãos Shiozawa, Koki Tani e outros. Outros mais foram chegando e localizando-se no interior, levando para diversas regiões onde a imigração japonesa era mais intensa, o esporte que só mais tarde iria frutificar e tornar-se popular.
Chegava ainda ao Brasil em 1934 o mestre Ryuzo Ogawa, 8º dan, fundando a academia Ogawa (Budokan), com o único objetivo de aprimorar a cultura física, moral e espiritual, através do esporte de quimono, obedecendo aos princípios morais e filosóficos pregados pelo mestre Jigoro Kano. Não se poderá deixar de reconhecer que o grande passo para o crescimento do judô no Brasil foi iniciado com o mestre Ogawa, em 1938, quando o mesmo juntamente com um grupo de idealistas oriundos do longínquo Japão, começaram um trabalho de amplos ideais, que visava projetar este nosso esporte na preferência dos brasileiros, separando-o definitivamente do ju-jutsu. Esse trabalho foi à conquista final para a confirmação do judô no Brasil, sobrepondo-se ao ju-jutsu e expandindo-se rapidamente para o interior, onde em algumas regiões, embora muito discretamente já era praticado. Com a mesma intensidade e rapidez investiu também para outros estados, alastrando-se praticamente por todo Brasil.
Na década de 1940 consolida-se o prestígio do judô em todo o Brasil, esclarecidas as dúvidas quanto às suas origens do antigo ju-jutsu, propagando-se a sua prática no Rio de Janeiro, Paraná, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, dentre outros estados, fundando-se novas academias e crescendo o número de seus praticantes.
Assim a mercê do esforço e dedicação de japoneses e brasileiros, o judô progride a passos largos. Em São Paulo, no ano de 1951 foi realizado o seu primeiro campeonato oficial. Em 1954 o Rio de Janeiro também realiza o seu. Ainda em 1954, realiza-se o primeiro Campeonato Brasileiro, tendo como sua maior expressão o judoca Massayoshi Kawakami, campeão nas categorias 3º dan e absoluto. Em 1956, o Brasil participa pela primeira vez de uma competição no exterior, mais precisamente do II Campeonato Pan-Americano, realizado em Cuba, ficando em honroso segundo lugar. Formavam a equipe os judocas Massayoshi Kawakami, Sunji Hinata, Augusto Cordeiro, Luiz Alberto Mendonça, Hikari Kurachi e Milton Rossi.
Continuando com mais força nos anos 50 o já vigoroso crescimento da década de 40, necessário se faz à criação de um órgão mentor para dirigir, coordenar as atividades judoísticas em franco desenvolvimento. Para essa coordenação funda São Paulo a sua federação em 17 de abril de 1958, e o Rio de Janeiro em 09 de agosto de 1962. Dirigia na época o judô no Brasil a Confederação Brasileira de Pugilismo. Dia a dia acentuava-se a necessidade de um órgão nascido nos próprios meios judoísticos, dedicando-se exclusivamente ao judô, que o representasse a nível nacional e internacional. Assim em 18 de março de 1969 foi fundada a Confederação Brasileira de Judô, tendo como seu primeiro presidente Paschoal Segreto Sobrinho.
Em 22 de fevereiro de 1972, foi a Confederação Brasileira de Judô reconhecida oficialmente, sendo então o seu presidente até o início de 1979, Augusto de Oliveira Cordeiro.
A bibliografia quanto à evolução do judô no Brasil é carente e existe muita controvérsia sobre o seu surgimento. Há mais recente delas foi publicada na revista Ippon, ano 2, nº 12, setembro/97, São Paulo. Onde ficou comprovado após longa pesquisa, realizada pelo amazonense Rildo Heros, que o ju-jutsu e o judô desembarcaram juntos no Brasil, em 1914, em Porto Alegre-RS, pelo japonês Mitsuyo Maeda, aluno desde infância do mestre Jigoro Kano. No começo de 1977, após extenso trabalho de entrevistas e pesquisas embasadas em jornais da época, além de testemunhos de imigrantes antigos, detectou-se que a primeira residência do judô no Brasil foi Manaus, no Amazonas, depois de entrar no país por Porto Alegre. Esta versão da história escrita por Carlos Bortole foi publicada com a certeza de sua exatidão. Contudo devemos ficar alertas para o eventual surgimento de qualquer evidência que possa contrariar o trabalho do amazonense.
Porém, a chancela do instituto Kodokan parece dar garantia total a nova versão. Que talvez não seja tão nova assim, mas que pela primeira vez aparece plenamente documentada, como Medeiros pretende mostrar em livro a ser publicado brevemente.

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